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As epidemias, com estas dimensões, sempre são um risco para o mundo, como ao longo da história da humanidade vivenciamos. Mostram a fragilidade da raça humana e o quanto temos que caminhar. Mostram fragilidade tecnológica de alguns e em algum momento de todos. Nossas dificuldades de organização e de entendimento de situações graves e a importância das instituições nelas, aqui falo em especial dos governos.
Somos sabedores da situação da saúde pública no Brasil, seus trunfos e suas dificuldades. Entre as dificuldades, está um país com dimensões continentais, com os mais diversos níveis de formação dos profissionais da saúde, variados níveis de informação de sua população e, principalmente, de crenças amplamente difundidas. O Brasil, diferente da China, é um país onde se vive a liberdade, talvez não em sua plenitude, mas liberdade. Assistimos surpresos e admirados a China construir um hospital em um curto espaço de tempo. Isto aqui, como em vários outros lugares, seria quase impossível. Só as questões ambientais, como bem colocou o Túlio Milman, recentemente em artigo da Zero Hora, para liberação de alvarás levariam um extenso tempo.
Mas não é sobre o fato de vivermos uma democracia e de termos o custo disto, e que eu acho que vale o preço, o único tema do qual eu quero falar. Gostaria de comentar a postura do governo de deixar os brasileiros na China, que lá foram por opção, exceto os funcionários públicos que trabalham na embaixada ou em missões do governo brasileiro. Vejo a imprensa colocar que alguns governos estão indo buscar seus compatriotas. Por exemplo, que a França foi buscar todos os seus cidadãos, como se todos coubessem dentro de um avião. Sim, cabe em um avião os funcionários do governo da França que trabalham na China. Hoje, 11 mil brasileiros vivem na China, quantos serão os franceses que moram lá? Há extensas dificuldades logísticas. Ou seja, o governo age com prudência em não ir buscar seus funcionários públicos e demais brasileiros. Em especial quanto à questão de nossa legislação referente a período de quarentenas. O governo pode deixar pessoas em quarentena (isoladas e sem contato com os demais) apenas com objetivo de resguardo, observação e acompanhamento. Imaginem manter um grupo de pessoas que está supostamente saudável em um hospital, por determinação do governo, ou se isolássemos uma cidade não permitindo que ninguém saísse.
No Brasil, nunca foi criada uma lei de quarentena e não teria como isolar, legalmente, quem viesse da China pelo período recomendado, inicialmente de 15 dias. Quantos milhares de processos o governo sofreria, por danos morais, entre outras coisas? E se não deixassem ninguém em isolamento, para respeitar a legislação, estaríamos trazendo 11 mil potenciais disseminadores do vírus. Então, é melhor que os brasileiros que estão na China fiquem lá, até os riscos de contágio terminarem ou forem amenizados. Por muitas razões: não temos estrutura de cuidado para enfrentar o vírus, não temos disciplina para isto e não temos histórico de obediência a autoridades, sejam elas quais forem.
Para enfrentar crises, é fundamental ter uma só orientação a ser seguida rigorosamente por todos (lógico que aqui seria inquestionável a capacidade técnica de quem dá as ordens). Imagino as horas de debates para se tomar providências básicas e os inúmeros "superespecialistas" com soluções mirabolantes, esquecendo sempre do básico: da onde vêm os recursos e da legislação a que estamos enquadrados. Sejamos solidários com os chineses e brasileiros que lá estão, colaborando no combate a esta epidemia, mas práticos e éticos com nosso discurso.
Precisamos e devemos procurar manter o vírus longe de nosso país. E pensar em medidas práticas e rápidas para evitar sua entrada e disseminação. Aqui não cabe ganhos secundários e discursos vazios. Temos uma situação grave, de alerta mundial, e cada um deve fazer sua parte, evitando mais uma inútil polarização política. Começando com atitudes simples, como lavar as mãos, que auxilia na prevenção de qualquer doença. E se o coronavírus chegar, vamos agir como uma grande equipe para qual o objetivo é unicamente a vitória.